Graças à coincidência entre a data do célebre aniversário e o período de realização do FAO, a encenação desta quarta (22) no Teatro Amazonas terá uma aura de comemoração. “Marcamos de propósito para a data de seu bicentenário essa última récita. Para todos nós, envolvidos na apresentação, essa ópera terá um sabor especial”, destaca Luiz Fernando Malheiro
By JONY CLAY BORGES
A terceira e última récita de “Parsifal” será o ponto alto das celebrações em Manaus pelos 200 anos do nascimento de Richard Wagner (1813-1883). A apresentação, que faz parte da programação do 17º Festival Amazonas de Ópera (FAO), inicia no Teatro Amazonas às 18h desta quarta (22), justamente a data que marca o bicentenário do compositor alemão, tido como um gênio da música de todos os tempos.
Graças à coincidência entre a data do célebre aniversário e o período de realização do FAO, a encenação desta quarta (22) no Teatro Amazonas terá uma aura de comemoração. “Marcamos de propósito para a data de seu bicentenário essa última récita. Para todos nós, envolvidos na apresentação, essa ópera terá um sabor especial”, destaca Luiz Fernando Malheiro, regente da montagem wagneriana e diretor artístico do FAO.
A afirmação do maestro é confirmada por Judith Simon, tocadora de oboé e conterrânea de Wagner. Há dois anos ela se apresentou ao lado da Amazonas Filarmônica na montagem de “Tristão e Isolda”, e agora, já como integrante efetiva da orquestra, participa de “Parsifal”. “É um pouco estranho, porque é uma coisa tão alemã! Mas acho muito legal o que fazem aqui no festival, (executar a música de Wagner) num ambiente tão diferente”, diz.
Reconhecimento
As homenagens a Wagner em Manaus – que incluíram também uma edição especial do Recital Bradesco, apresentada ontem no Teatro da Instalação – se somam a uma série de tributos ao compositor germânico promovidos por orquestras, universidades e companhias líricas de todo o mundo. “Comemorar os 200 anos de Wagner é uma obrigação de todas as casas de ópera que se prezam”, assevera Malheiro.
A mobilização em torno do bicentenário do alemão se justifica pela sua importância no cenário erudito. Ele foi responsável, por exemplo, por uma renovação no segmento lírico a partir do século 19, com seus dramas musicais. “Ele mudou a ópera. Antes dele as peças tinham mais árias, coisas repetitivas, e ele levou o formato à frente para contar histórias, como num filme”, lembra Judith. “Ele buscava uma forma de ‘arte total’, que unisse drama, teatro, arte, literatura, e em que tudo fosse explorado ao extremo”, acresce Malheiro.
Para além da ópera, Wagner instigou a busca por novos caminhos na música como um todo. “Ele explorou tanto a música tonal, usou tanto os recursos de modulação, que inspirou os músicos posteriores a ele a buscar novos caminhos. Uma das consequências disso foi o surgimento da Escola de Viena, com a música dodecafônica”, destaca o maestro.
Repertório lírico
Último dentre os mais famosos dramas musicais de Wagner, “Parsifal” gira em torno de uma fraternidade de cavaleiros do Santo Graal, que espera a chegada de um “inocente casto” (o “Parsifal” do título) para guiá-la na busca pela famosa relíquia cristã. A montagem do FAO, que tem direção cênica do mexicano Sergio Vela, se soma a outras peças do compositor já encenadas pelo FAO, entre elas a ambiciosa tetralogia “O Anel do Nibelungo”.
“Ainda falta montarmos várias peças dele – ‘Tannhäuser’, ‘Lohengrin’, ‘Os mestres cantores de Nuremberg’ estão entre as maiores. A próxima que tenho vontade de fazer é ‘Tannhäuser’, mas ainda não há previsão”, afirma Malheiro. O regente se diz satisfeito com a montagem wagneriana desta edição: “Wagner sempre me atraiu, e esse ‘Parsifal’ está me dando bastante alegria”.
Personagem contraditório
Embora seja reconhecido de forma unânime no terreno musical, Richard Wagner até hoje é objeto de controvérsia por suas convicções pessoais e políticas. O compositor nascido em Leipzig publicou manifestos contra a influência dos judeus na música, e é apontado como um precursor do antissemitismo. Mais tarde, suas ideias e sua obra seriam alvo da admiração de Adolf Hitler, que tinha o compositor conterrâneo como seu favorito.
A relação entre Wagner e o líder nazista repercutem até a atualidade. Alemã de Hamburgo, Judith Simon tinha preconceito contra o compositor antes de conhecer sua música. “Não conhecia e nem queria conhecer”, diz. A questão do nazismo, do antissemitismo e da guerra que se seguiu, para ela, era “uma coisa muito delicada”.
Foi só ao ter contato com a obra de Wagner que a oboísta se rendeu: “Deixei de lado todos os preconceitos, e a música me conquistou. É tão profunda, maravilhosa”.
Busca: tributos
No Brasil e na América Latina, obras de Richard Wagner serão apresentadas ao longo do ano em casas como o Teatro Municipal de Santiago, no Chile, e o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, entre outras.
Lista: principais dramas musicais de Richard Wagner
O Navio Fantasma (*2007)
Tannhäuser
Lohengrin
O Ouro do Reno (*2005)
A Valquíria (*2002/2005)
Siegfried (*2003/2005)
Crepúsculo dos Deuses (*2004/2005)
Tristão e Isolda (*2011)
Os Mestres Cantores de Nuremberg
Parsifal (*2013)
* Já apresentadas pelo FAO nos anos indicados
Serviço
o que é: “Parsifal”, de Richard Wagner – 17º Festival Amazonas de Ópera (FAO)
onde: Teatro Amazonas, Largo de São Sebastião, Centro
quando: Nesta quarta (22), às 18h
quanto: Ingressos de R$ 5 a R$ 70, dependendo da localização do assento
informações: (92) 3232-1768
http://acritica.uol.com.br/vida/Manaus-Amazonas-Amazonia-Genio-erudito-celebra-Wagner-FAO_0_923907612.html