Considerada uma das óperas mais profundas e filosóficas de Richard Wagner, que morreu logo após sua estreia, “Parsifal” tem quase 5 horas de duração e dois intervalos na montagem do XVII Festival Amazonas de Ópera (FAO). Neste domingo, às 17h, tem sua segunda récita. Confira antes um resumo da sinopse da grandiosa composição:
Considerada uma das óperas mais profundas e filosóficas de Richard Wagner, que morreu logo após sua estreia, “Parsifal” tem quase 5 horas de duração e dois intervalos na montagem do XVII Festival Amazonas de Ópera (FAO). Neste domingo, às 17h, tem sua segunda récita. Confira antes um resumo da sinopse da grandiosa composição:
Um longo prelúdio orquestral antecede o levantar da cortina, após o qual vislumbramos, no palco, o seguinte quadro: Numa floresta – localizada nas montanhas do norte da Espanha Gótica – nas cercanias do Castelo “Montsalvat”, Gurnemanz, um Cavaleiro do Graal, e dois escudeiros estão dormindo. Gurnemanz, após acordar e despertar os jovens, faz, com eles, as orações matinais, após o que ordena-lhes que se dirijam ao lago próximo, a fim de preparar o banho medicinal do Rei Amfortas, que, há anos, é acometido da moléstia de uma chaga que jamais se fecha. Chegam alguns cavaleiros e escudeiros do Graal, cuja conversa com Gurnemanz é interrompida pela chegada abrupta de Kundry, uma mulher muito estranha, cuja fisionomia afogueada desperta assombro. Ela entrega a Gurnemanz um frasco com um bálsamo, destinado a aliviar a dor de Amfortas.
TOLO
Ao ser interrogada por Gurnemanz a cerca da origem do estranho frasco, ela diz que o traz da Arábia. Amfortas chega, carregado numa liteira, acompanhado de sua escolta. Comenta, rememorando, uma promessa divina que tivera de um futuro milagre, pelo qual seria curado de sua enfermidade, e cujo responsável seria um certo “tolo inocente”, “sábio por força da compaixão”; mas, a seguir, demonstra pouca esperança com relação a tal possibilidade, e expressa um profundo desejo de morrer, ao que Gurnemanz replica, apresentando o novo bálsamo, trazido por Kundry, que responde com rispidez ao agradecimento de Amfortas. Este é, por fim, conduzido ao banho curativo. Ficam em cena Gurnemanz e alguns escudeiros, os quais observam Kundry com desconfiança, interpelam-na, recebendo respostas evasivas, criticam-na com veemência, e são, enfim, repreendidos por Gurnemanz, que fá-los lembrar o quanto esta mulher é útil e prestativa aos Cavaleiros do Graal, “afinal, quem a não ser ela pode sempre trazer notícias de nossos confrades que combatiam em regiões longínquas?” Os escudeiros, no entanto, insistem em sua aversão pela estranha criatura.
MAGO
A conversa desenvolve-se ao ponto de ser mencionado Klingsor, um “mago das trevas”, que quisera, outrora – narra Gurnemanz -, tornar-se um dos Cavaleiros, mas seu intento fora negado pela Irmandade, que o considerara moralmente incapaz da investidura. Inconformado com a recusa, Klingsor castrara a si próprio, achando que “tornando-se casto” poderia ser admitido. Mais uma vez – continua narrando Gurnemanz – fora recusado, pois para os Cavaleiros de nada adiantava alguém tornar-se um eunuco, pois o que valia era, sim, a personalidade pura. Continuando a história, Gurnemanz diz que Klingsor, despeitado, descobrira, por fim, que seu ato de auto-mutilação poderia lhe proporcionar poderes de magia, e ele, com efeito, os desenvolvera, no intento de vingar-se da Irmandade dos Cavaleiros Templários (do Graal), coisa que começara a fazer, erigindo, magicamente, um castelo e um jardim encantados, acercando-se das “donzelas flores”, que eram, segundo Gurnemanz, mulheres “de beleza infernal”, as quais seduziam e atraíam os Templários menos fortes, fazendo deles seus amantes efetivos, pelo que tornavam-se cativos no castelo mágico de Klingor.
BELA
Acontece, entretanto, que o próprio Rei do Graal, Amfortas, fora uma das vítimas do mago, pois, numa investida contra o castelo – uma vez que seu pai, Titurel, estava demasiado velho, e lhe passara a investidura de Rei -, Amfortas para lá se dirigira, munido da Sagrada Lança; no entanto, “uma certa mulher muito bela” seduzira o Rei, dando a chance que Klingsor esperava para roubar a “Santa Lança do Graal”, ferindo, com a própria, a virilha de Amfortas, que estava, agora, condenado àquela chaga dolorosa e sempre aberta, e à agonia moral de ter-se deixado seduzir, tornando-se o responsável pela perda da Lança. A narrativa de Gurnemanz chega, finalmente, ao episódio em que Amfortas, num momento de fervorosa e profunda oração, vê surgir ante seu olhar a inscrição, em letras luminosas: “Sábio por compaixão, o inocente tolo. Espera por ele, pois a ele Eu escolhi.”
CISNE
Neste exato momento, porém, a tranquila reunião é interrompida por gritos aflitos e dolorosos de Cavaleiros e Escudeiros, que anunciam que alguém feriu mortalmente um cisne selvagem. Como nessa floresta os animais são sagrados e é proibido molestá-los, estão todos furiosos com o mau feito, cujo responsável é logo identificado, e trazido à presença de Gurnemanz. Todos querem puní-lo, mas Gurnemanz trata de interrogar o estranho, perguntando se fora mesmo ele que matara o cisne. O rapaz confirma com displicência, ao que Gurnemanz replica com uma longa, professoral e comovente repreensão, a qual desperta o remorso do estranho, que quebra e lança longe o arco, com o qual praticara o delito. Gurnemanz, então, começa a indagá-lo a cerca do lugar de onde vinha, “quem era seu pai” e “quem lhe indicara o caminho”, pelo qual viera dar nos Domínios do Graal. A todas as perguntas, o estranho só sabe responder “não sei” (“Das weiß ich nicht.”).
ESTÚPIDA
Ao ser indagado sobre seu nome, responde que “já teve muitos, mas não se lembra de nenhum”. Gurnemanz, então, admirado com o tamanho da estupidez do rapaz, pede-lhe que diga qualquer coisa que saiba: “afinal, ao menos uma coisa deves conhecer”. O estranho diz que tem mãe, e que o nome dela é Herzeleide (que quer dizer “Coração Entristecido”). Gurnemanz pergunta-lhe de quem ganhara o arco, com o qual ferira o cisne; o estranho diz ter ele mesmo o feito. Observando o aspecto do rapaz, que “parece nobre e bem nascido”, Gurnemanz demonstra estranheza no fato de sua mãe não lhe ter proporcionado condições de aprender a usar “melhores armas”. Nisto, irrompe Kundry, que mantivera um longo silêncio, para explicar, em tom agitado e desvairado, que a mãe do rapaz, “a estúpida”, o criara longe das armas, temendo que ele tivesse a mesma sorte do pai – Gamuret – que morrera em combate. O jovem confirma, e conta que, certa feita, vira uns cavaleiros, montados em belos cavalos; dissera-lhes que desejava ser um deles; prosseguindo a narrativa, diz o jovem que “eles riram e cavalgaram para longe”.
MORTE
Desde então ele se afastou de casa e anda à solta, sendo constantemente ameaçado por inimigos ocasionais, mas sempre os vencendo com seu arco. Kundry interpõe-se de novo e diz que, “sim, muitos sentiram a força daquele jovem.” Este pergunta a ela “quem eram aqueles que o haviam temido”, ao que ela responde: “Os maus.” Surpreso, o estranho pergunta: “Então, quem é bom?” À resposta de Gurnemanz, segundo a qual “sua mãe era boa; ela que, na certa estaria sofrendo com sua ausência”, Kundry esclarece, mais uma vez com brusquidão: “Suas dores acabaram: ela está morta.” O estranho, indignado, pergunta com furor: “Quem disse isto?” “Eu”, responde Kundry, “passei por lá, e a vi morrer”. O rapaz avança e a agride com violência, sendo impedido e repreendido por Gurnemanz. Kundry, então, embora tenha sido agredida por ele, leva-lhe água à fronte, para aliviá-lo do quase desmaio que acaba de ter. Gurnemanz elogia esse ato de desprendimento e bondade, mas Kundry replica dizendo que “nunca pratica o bem”. Tudo o que ela quer é “repouso”. E, justamente neste momento, ela começa a ser envolta por um sono irresistível, do qual tenta escapar, mas acaba cedendo, ao reconhecer que trata-se de um esforço inútil.
INOCENTE
Nisto, Gurnemanz observa que o Rei já está voltando do banho, e diz ao estranho que pretende conduzi-lo “ao Graal”. Estupidamente, o rapaz pergunta “quem é o Graal”; Gurnemanz responde enigmaticamente, mas afirma que “se ele foi pelo Graal escolhido, do Graal receberá conhecimento imperecível”; caminham, pois, acompanhando o cortejo, e o estranho comenta que “está andando devagar, mas parece que já percorreu longa distância”, ao que Gurnemanz acrescenta: “Tu vês, meu filho, que por aqui o Espaço se torna o Tempo” (isto é: “aqui espaço e tempo são a mesma coisa”). Quando chegam finalmente, no limiar da Grande sala do Graal, Gurnemanz diz: “Agora fica bem atento, e deixa-me ver, caso sejas um tolo e um puro, que conhecimento será dado a ti”. Deduzimos, portanto, que Gurnemanz supunha que aquele estranho poderia ser o “Inocente Tolo”, prometido por Deus a Amfortas, como seu Salvador.
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